ESPEN: Guia prático de Nutrição Clínica na Doença Inflamatória Intestinal

ESPEN: Guia prático de Nutrição Clínica na Doença Inflamatória Intestinal
O guia nutricional divulgado consiste de 40 recomendações para nortear o tratamento nutricional na Doença Inflamatória Intestinal(DII) que são a Retocolite Ulcerativa (RU) e a Doença de Crohn (DC):

  1. Prevenção da DII: dieta rica em fibras e vegetais, rica em ácidos graxos w 3 e baixa em ácidos graxos w 6.
  2. Amamentação é recomendada, porque diminui o risco de DII.
  3. Pacientes com DII têm alto risco de desenvolver desnutrição, por isso precisam de um diagnóstico preciso e regular. Pacientes desnutridos com DII devem ser tratados adequadamente porque estão sujeitos a um pior prognóstico, complicações, piora da qualidade de vida e mortalidade.
  4. Os requerimentos de energia dos pacientes com DII são similares ao da população geral.
  5. Os requerimentos protéicos no período de atividade da doença é de 1,2 a 1,5g/Kg/d e no período de remissão é de 1g/Kg/dia. Atenção porque o uso de corticóides pode depletar proteínas em crianças e adultos com DC.
  6. Pacientes com DII devem checar as deficiências de micronutrientes com regularidade para corrigir as possíveis deficiências nutricionais.
  7. A suplementação de ferro é recomendada para pacientes com DII quando estiverem com anemia ferropriva. A suplementação será mantida até os níveis de hemoglobina e ferro se normalizarem. O uso de ferro via oral é a primeira possibilidade. Ferro endovenoso deve ser proposto se o paciente for intolerante ao ferro via oral  ou quando a hemoglobina estiver abaixo de 10.
  8. Não há uma dieta recomendada para pacientes em remissão da DII.
  9. Pacientes com diarreia severa ou alto débito na jejunostomia ou ileostomia devem ter monitorados o sódio na urina para verificar se há decréscimo do fluido hipotônico e aumento da solução salina), Infusão parenteral com fluidos e eletrólitos) pode ser necessária nestes casos.
  10. Pacientes com DC com obstrução intestinal ou estenose, podem necessitar de dieta com adaptação de textura ou dieta enteral pós estenose.
  11. Pacientes com DII (adultos ou crianças) com doença ativa que são tratados com esteróides, devem ter seus níveis de cálcio e vitamina D monitorados e suplementados se necessário, para prevenir a perda da densidade mineral.
  12. O tratamento com sequestrantes como a colestiramina tem um risco adicional mínimo na absorção de gordura e não precisa de uma dieta modificada. Pacientes com hiperoxaluria também tem má absorção de gorduras
  13. Dietas de exclusão não devem ser recomendadas em pacientes com DC porque cada paciente possui sua intolerância individual.
  14. A terapia com probióticos como Lactobacillus reuteri ou VSL#3 pode ser usada para proporcionar remissão de RU moderada.  Probióticos NÃO devem ser usados na fase ativa da DC.
  15. Suplementos nutricionais orais são o primeiro passo para uso na DII, mas geralmente são os de menor suporte adicional à alimentação normal. Se a via oral não for suficiente, deve-se considerar uma terapia de suporte nutricional. A nutrição oral ou enteral (NE) devem ser preferenciais à nutrição parenteral (NPT), a menos que esta seja completamente indicada. A NPT é indicada quando a via oral e via enteral não são suficientes, quando houver obstrução intestinal e não tiver possibilidade de usar nutrição enteral, ou quando houver fístula de alto débito.
  16. Nutrição enteral (NE) é efetiva e recomendada na indução da remissão em crianças e adolescentes com DC ativa.
  17. Para NE tubo nasal ou acesso percutâneo pode ser usado. Em pacientes com DC a NE deve ser usar com bomba de infusão.
  18. NE polimérica, com moderado teor de gordura, sem suplementos específicos pode ser a escolha da terapia nutricional em DII ativa. Fórmulas específicas ou substratos como glutamina, ácidos graxos W3 NÃO são recomendados para NE ou NPT em DII.
  19. Pacientes com DC devem prevenir a desidratação para evitar o tromboembolismo
  20. Pacientes de DC com fístula distal (baixo íleo ou colônica) e baixo débito podem usualmente receber suporte nutricional enteral. Pacientes com fístula proximal e ou com alto débito devem receber suporte nutricional parcial ou exclusivo em NPT.
  21. Pacientes com DC em deprivação nutricional por muitos dias, precisam ter precauções e intervenções para prevenir a síndrome da realimentação, particularmente monitorando fósforo e tiamina.
  22. NE é segura e recomendada como suporte nutricional em pacientes com RU severa. NPT NÃO deve ser usada em RU, a menos que ocorra falência intestinal.
  23. Em caso de cirurgia eletiva, o pré operatório deve seguir o protocolo ERAS, com abreviação de jejum. Em cirurgias de emergência, a terapia nutricional deve iniciar precocemente com NE ou NPT quando o paciente está desnutrido e não responde satisfatoriamente com a ingestão via oral por 07 dias após a cirurgia.
  24. Pacientes que não atingem sua recomendação diária de energia e protéinas, devem ser encorajados a usar suplementos nutricionais via oral no período peri operatório. Se não toleram o suporte via oral, pode usar a NE. Se o paciente está com diagnóstico de desnutrição, a cirurgia da DII deve ser atrasada em 7 a 14 dias, se possível, para uma terapia nutricional intensiva.
  25. A combinação de NE e NPT deve ser considerada, sendo 60% das calorias por via enteral.  A NPT no periodo perioperatório de DII deveriam ser usualmente usadas como suplementar à NE.  NPT deve ser usada sozinha, se a NE não for possível como abcesso, vômitos ou diarreia severos ou por contra indicação como obstrução intestinal e ileal, choque severo ou isquemia intestinal.
  26. Pacientes cirúrgicos de DII que faem precocemente o suporte nutricional apropriado, diminuem o risco de complicações pós operatórias, independentemente da via alimentar de administração.  Pacientes com DC com prolongada insufiência intestinal a NPT é mandatória.
  27. A alimentação via oral ou NE devem ser iniciadas precocemente após a cirurgia de DII. Após proctocolectomia ou colectomia, água e eletrólitos devem ser administrados para assumir a estabilidade hemodinâmica.
  28. Pacientes em remissão da DII devem consultar um nutricionista como parte do cuidado multidisciplinar para prover a terapia nutricional apropriada, prevenir desnutrição e desordens relacionadas à nutrição.
  29. NÃO há uma dieta específica para remissão da DII.
  30. A suplementação com ômega 3 não deve ser usada na remissão de DII.
  31. Dietas ricas em fibras não especificas não são recomendadas oara remissão de DII.
  32. Terapia com probióticos deve ser considerada na remissão da RU, mas não na remissão de DC.
  33. Pacientes colectomizados devem ser tratados com mistura de probióticos VSL#3, se o tratamento com antibióticos falhar. A mistura do probiótico VSL#3 pode ser usada como prevenção primária e secundária de inflamação no puch em pacientes com RU que tem colectomia e anastomose no pouch anal.
  34. Nem NE, nem NPT são recomendadas na remissão de DII. A NE só poderá ser usada se o paciente estiver desnutrido e não atinge sua recomendação dietética diária via oral com aconselhamento nutricional.
  35. Dieta padrão deve ser usada para pacientes com DII em remissão.
  36. Quando mais de 20cm de ileo distal , com ou sem combinação com a válvula ilecocecal for ressecada, a vitamina B12 deve ser administrada em pacientes com DC.
  37. Pacientes com DII tratados com sulfasalazina e metotrexato, devem suplementar vitamina B9 – ácido fólico.
  38. Pacientes com DII que estão grávidas, os níveis de ferro e folato devem ser monitorados regularmente. Se houver deficiência, devem ser suplementados.
  39. O exercício físico deve ser encorajado para pacientes com DII por causa a diminuição natural da massa muscular.
  40. Pacientes obesos com DII, devem ser orientados para perder e manter o peso somente nas fases de remissão da doença, de acordo com os guidelines de obesidade.

Fonte: Bischoff SC et al. ESPEN practical guideline: Clinical Nutrition in Inflammatory Bowel Disease. Clinical Nutrition 39 (2020) 632 – 653.