Doença Inflamatória Intestinal: um desafio nutricional

DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL:


Receber um diagnóstico de doença inflamatória intestinal (DII) é algo que muda para sempre o modo de levar a vida, seja pelo estilo de vida, seja pela sua alimentação.
 
Mas o que é a doença inflamatória intestinal (DII)?
A DII engloba a retocolite ulcerativa (RCU) e a Doença de Crohn (DC). Ambas são graves e exigem cuidados de uma equipe bem afinada para proporcionar a melhor qualidade de vida que o paciente puder ter. A RCU é conhecida por afetar apenas o intestino, já a DC pode afetar todo o trato gastrointestinal desde a boca até o ânus.
 
Realidades mundiais diferentes:
– EUA: é mais frequente pacientes com DC com IMC >30 do que com IMC <18.
– Europa / Asia: prevalência de obesidade é menor e IMC pré operatório é menor que nos EUA.
 
Há um aumento do número de casos de DII no Brasil e Caribe, que se deve muito ao clima, cultura, dieta, infraestrutura de saúde e aspectos sócio econômicos.
 
Os sintomas mais comuns da inflamação abrangem: dores abdominais, mudanças no hábito intestinal como diarreia ou obstipação, dores intensas, sangramentos retais, perda de peso, cansaço, fraqueza, etc.
 
A amamentação, assim como o consumo de uma alimentação rica em fibras com frutas e vegetais variados podem ser medidas preventivas da DII.
 
Será que qualquer pessoa pode ter DII?
Alguns indivíduos podem ser geneticamente mais predispostos a ter, principalmente os que usam medicamentos contínuos que podem modificar a imunidade e a microbiota intestinal. A doença pode acometer crianças, jovens e adultos. O diagnóstico precoce é decisivo para melhorar o estado nutricional e a qualidade de vida do paciente.
 
Existem dois momentos distintos da doença: a remissão, ou seja, quando há o controle da doença com medicamentos específicos onde os sintomas podem cessar e outro em que há a atividade da doença com sintomas importantes e debilitantes como sangramento retal, diarreia, emagrecimento, dor abdominal importante.
 
Quando ocorrem estas manifestações inflamatórias é necessário um cuidado maior com a alimentação, por vezes uso de suplementos via oral ou se não for suficiente para a sua nutrição, o uso de outras vias como enteral ou parenteral são necessárias. Alguns pacientes podem necessitar de cirurgias de repetição sempre que a inflamação estiver grave e de difícil controle pelo tratamento clínico. Podem ocorrer com frequencia deficiências nutricionais importantes como anemias por falta de ferro, ácido fólico e vitamina B12. Por isso as avaliações médicas são fundamentais e devem ocorrer periodicamente.
 
A desnutrição pode ocorrer tanto em RCU como em DC e piorar a recuperação após a cirurgia.
 
A alimentação na DII deve ser individualizada. Os pacientes são orientados a fazer um registro alimentar diário e a identificar os alimentos que possam desencadear dor ou diarreia e assim excluí-los do seu dia a dia. A orientação básica é se DOEU, NÃO COMA! As pessoas são diferentes e a alimentação também se comporta de maneira singular, mesmo entre membros da mesma família. A orientação nutricional básica na doença em atividade quando há diarreia grave, é de alimentos pobres em resíduos, para dar o mínimo de trabalho no trato gastrointestinal, preferência por carnes brancas pobres em gordura, uso de temperos como cúrcuma, frutas e legumes cozidos sem as fibras, água em quantidade suficiente 35ml/Kg de peso por dia. Evitar bebidas alcoólicas, refrigerantes e outras bebidas gaseificadas. Ficar de olho no peso e no aspecto das fezes. Qualquer alteração ou sangramento deve ser avisado ao médico.
 
Referências Bibliográficas:
1. ECCO Topical Review. Journal of Crohn’s and Colitis, 2020, 431–444.
2. ESPEN S.C. Bischoff et al. / Clinical Nutrition 39 (2020) 632 – 653.
3. Kotze PG et al. Clin Gastroent Hepat 2020 Feb;18 (2): 304-312.