Por quê o sabor doce é tão atrativo?

Você já sentiu aquela vontade louca de comer um doce? Quem nunca?
Imagino que sim. Os chamados “formiguinhas” são as pessoas que relatam esta necessidade de doces e isto pode variar em horários e em quantidades deste alimento. Neste ponto que mora o perigo, porque ter uma boa relação com o doce é conseguir ter um controle sobre o que come, quando come e a quantidade que ingere num único horário. O açúcar não é somente o açúcar branco adicionado no chá ou café. Ele pode estar mascarado em vários alimentos: chocolate, bolos, doce de amendoim, pães, bolachas, tortas, balas, gomas, etc.

O doce é amplamente considerado como de grande qualidade gustativa básica ou primária. Gostar de substâncias com sabor doce é inato, embora as experiências pós-natais possam moldar as respostas. Nesta esteira de pensamento, é proibido oferecer doces às crianças como menos de 3 anos de idade. Na verdade, quanto mais retardar o consumo de doces, melhor será. As crianças acabam modificando a microbiota intestinal muito precocemente quando recebem alimentos doces advindos de carboidratos refinados e de alimentos ultraprocessados antes dos 3 anos de idade. A alimentação nos primeiros 1000 dias torna-se decisiva para a saúde intestinal da criança.

O poder do sabor doce para induzir o consumo e motivar o comportamento é profundo, sugerindo a importância desse sentido para muitas espécies. A maioria dos pesquisadores presume que a capacidade de identificar moléculas doces através do sentido do paladar evoluiu para permitir que os organismos detectem fontes de glicose prontamente disponível nas plantas.
Quando você come açúcar seu pâncreas secreta insulina, o que baixa rapidamente a glicemia e aí seu corpo entra num círculo vicioso, querendo mais açúcar para reequilibrar seu corpo.
Os carboidratos são classificados de forma simplificada em complexos e simples. Os açúcares complexos são os que possuem uma liberação mais lenta no seu organismo e são os pães, massas, arroz. O ideal é que você opte pelos integrais para melhorar sua saciedade e diminuir a absorção de açúcar. Já os açúcares simples são liberados rapidamente como doces, balas, chocolates. Estes devem ter o consumo controlado para evitar um grande prejuízo no seu controle calórico. Caso seu objetivo seja perder peso no tratamento clínico tradicional ou através de uma cirurgia bariátrica, evite ao máximo estes alimentos. Primeiro devido ao seu alto teor calórico e segundo, porque em se tratando de cirurgia bariátrica, você pode desencadear a síndrome de “dumping” com sintomas muito desagradáveis como náuseas, vômitos, diarreia, rubor, taquicardia e até uma sensação de morte.
Pacientes após cirurgia bariátrica ou de tratamento clínico para perda de peso estão super representados no tratamento de abuso de substâncias, constituindo cerca de 3% das internações; cerca de 2/3 desses pacientes negam o uso problemático de substâncias antes da cirurgia por exemplo. É importante avançar nossa compreensão no surgimento de transtornos por uso de substâncias. Pesquisas crescentes com modelos animais e humanos sugerem que o “vício em comida” pode desempenhar um papel em certas formas de obesidade, com risco particular conferido por alimentos ricos em açúcar, mas baixos em gordura. Portanto, a hipótese de que os pacientes que relataram problemas antes da cirurgia com alimentos com alto teor de açúcar / baixo teor de gordura e aqueles com alto índice glicêmico (IG) seriam os que mais provavelmente evidenciam novos distúrbios neurológicos após a cirurgia. Esses achados fornecem evidências da possibilidade de transferência de dependência entre certos pacientes bariátricos.
Alguns fatores podem contribuir para este comportamento:
* não fracionar as refeições: permanecer muito tempo em jejum, pode causar hipoglicemia e seu corpo pode achar que está precisando de açúcar.
* falta de sono: será que seu sono está reparador? Analise se você consegue dormir bem pelo menos 7 a 8 horas por dia! Muitas pessoas que mudam seu turno de trabalho podem aumentar até 10Kg em um ano devido à mudança no ritmo de sono e também das opções alimentares (com muito açúcar!) para manter-se acordado.
* falta de nutrientes: o nutricionista também pode pensar em falta de magnésio e cromo na sua alimentação.
* estilo de vida saudável: exercícios físicos frequentes que possam trazer a mesma sensação de bem estar que os doces promovem.

Referências Bibliográficas:
1. Westwater ML, Fletcher PC, Ziauddeen H. Sugar addiction: the state of the science. Eur J Nutr. 2016 Nov;55(Suppl 2):55-69.
2. Markus CR, Rogers PJ, Brouns F, Schepers R. Eating dependence and weight gain; no human evidence for a ‘sugar-addiction’ model of overweight. Appetite. 2017 Jul 1;114:64-72.
3. Hsu JS, Wang PW, Ko CH, Hsieh TJ, Chen CY, Yen JY. Brain correlates of response inhibition and error processing in females with obesity and sweet food addiction: A functional magnetic imaging study. Obes Res Clin Pract. 2017 Nov-Dec;11(6):677-686.