ESTUDO DE CASO: DEFICIÊNCIA DE ÁCIDOS GRAXOS ESSENCIAIS E DE NIACINA APÓS A CIRURGIA BARIÁTRICA

Pesquisa publicada no XV Congresso Brasileiro de Cirurgia Bariátrica e Metabólica em Brasilia – DF, em 2013.
ESTUDO DE CASO: DEFICIÊNCIA DE ÁCIDOS GRAXOS ESSENCIAIS E DE NIACINA APÓS A CIRURGIA BARIÁTRICA
 

  1. INTRODUÇÃO:

A cirurgia bariátrica envolve restrição gástrica e a diminuição da área intestinal absortiva na técnica de gastroplastia em Y Roux, e com acarreta inúmeras consequências nutricionais, evidentes na prática clínica e que podem ser corrigidas com o uso de suplementos nutricionais adequados.
Alguns nutrientes são menosprezados por muitos operados, por dificuldade no uso habitual, falta de palatabilidade e ausência de fontes alimentares de fácil acesso. Alguns deles são os ácidos graxos essenciais ômega 6 e ômega 3. Seu metabolismo ocorre pela hidrólise da enzima lipoproteína lipase no tecido adiposo e muscular. Os ácidos graxos livres são transportados pelo sangue, ligados à albumina, ou são captados e reesterificados a triglicérides nos tecidos adiposo e muscular. Dependem da carnitina para a oxidação na mitocôndria. São metabolizados no fígado (principalmente e no tecido adiposo, de onde são transportados na forma de VLDL). Tem função de componentes celulares, precursores de eicosanóides e participam na modulação do sistema imunológico.1
A deficiência de ômega – 6 pode causar: lesões na pele, aumento da agregação plaquetária, trombocitopenia, esteatose hepática, retardo na cicatrização, aumento da suscetibilidade a infecções e, em crianças, retardo no crescimento e diarreia.
Já a deficiência de ômega – 3 pode gerar sintomas neurológicos, redução da acuidade visual, lesões na pele, retardo no crescimento, diminuição da capacidade de aprendizado e eletrorretinograma anormal. 1,2
A niacina tem seu papel metabólico como precursor da porção coenzima da nicotinamida nucleotídio, NAD e NADP, e estas podem ser sintetizadas in vivo pelo aminoácido essencial triptofano em quantidade correspondente a 60:1. 3
A pelagra é consequência da deficiência de ambos os nutrientes, niacina e triptofano. É caracterizada por dermatite fotossensível, parecida com queimadura grave de sol, com um padrão de distribuição típico, semelhante a uma borboleta na face, afetando todas as partes da pele expostas à luz solar. Lesões similares podem ocorrer em joelhos, cotovelo, pulso e tornozelo e pode haver diarréia. 3
Tanto a niacina como o triptofano são abundantemente encontrados em carne vermelha, fígado, legumes, leite, ovo, grãos de cereais, leveduras, peixe e milho.3
OBJETIVO DO TRABALHO: descrever um caso de deficiência de ácidos graxos essenciais e de niacina após a cirurgia bariátrica.

  1. RELATO DE CASO:

Foi selecionada uma paciente do sexo feminino com 45 anos, submetida à cirurgia de gastroplastia em Y Roux há 01 ano, e que há 30 dias relata queixa de alterações na pele e diarréia. A paciente realizou todos os exames bioquímicos pertinentes na rotina bariátrica como vitaminas e minerais, parâmetros de ferro e foi avaliado seu índice de massa corpórea e ingestão calórica diária e a distribuição de macronutrientes e realizado exame físico.
Os resultados de exames bioquímicos estavam normais, apenas a paciente apresentava sinais clínicos bastante significantes de pele escamosa com aspecto de queimadura grave, que descamava como pele de “cobra” e episódios de diarréia frequente. A paciente fez gastroplastia em Y Roux havia 12 meses e fazia uso de polivitamínico comum, Materna® e Noripurum fólico®. Apresentava dieta hipocalórica média de 1440Kcal por dia, 30% de proteínas, compatível com a fase de cirurgia, hipolipídica (20% do valor calórico total). A característica física era compatível com pelagra sem a deficiência neurológica que a acompanha e de ácidos graxos essenciais que apresentavam-se carentes na dieta diária da paciente. Foi utilizada ácido graxo essencial por um período de 30 dias na quantidade de 02 comprimidos de ômega 3 (1000mg) e ômega 6 (óleo de linhaça – 1000mg) por dia até cessar o sintoma, assim como de manipulação de niacina (35mg/dia) e triptofano (01mg de niacina formam 60mg de triptofano), que embora abundantes na dieta habitual, não eram completamente absorvidos devido ao bypass. Além disso, a paciente foi orientada a fazer uso tópico de Dersani® nas lesões na pele e seu cardápio foi reformulado para atender as necessidades destes nutrientes.
Após 15 dias de tratamento, as lesões retrocederam e a pele retomou gradativamente a sua característica saudável.
O consumo diário da quantidade recomendada de ômega 3 (ácido alfa linolênico) e ômega 6 (ácido linoléico), está negligenciado mesmo entre os não operados. As melhores fontes alimentares do primeiro são peixes de água fria como salmão, atum, bacalhau, arenque, truta, sardinha e seus óleos de linhaça, canola, soja e nozes. E as melhores fontes alimentares do segundo são óleo de girassol, milho, gergelim, canola, soja, linho, amêndoas, castanhas e avelãs.
O uso de suplemento sintético é bastante comum na população brasileira.
A carência de niacina é mais rara, pois o nutriente é abundante em muitos alimentos como carne vermelha (que muitos operados não consomem satisfatoriamente), mas também em fígado, legumes, leite (limitado consumo pelos operados com intolerância à lactose), ovo, grãos de cereais, leveduras, peixe e milho.
A niacina é um nutriente fundamental no metabolismo gerador de energia. Sua deficiência pode causa a Pelagra, chamada “O mal da rosa”. O aspecto de pele em descamação é comum. A referida paciente, em exame clínico, apresentava pele escamosa, descascando bastante, com aspecto de cobra. O processo havia começado há pelo menos quinze dias e a mesma achava que seria apenas pele ressecada pela temperatura fria do inverno rigoroso na cidade. Como os sintomas se acentuaram e se espalharam dos braços e  cotovelos, para pernas e joelhos e paralelamente iniciou com diarréias frequentes de pelo menos 06 episódios diários, a paciente procurou o Serviço de Cirurgia Bariátrica, onde foi atendida e realizada a suplementação adequada.

  1. CONCLUSÃO:

Conclui-se que a paciente apresentava ao exame clínico características de deficiência de ácidos graxos essenciais e de niacina e que os sintomas cederam com a suplementação nutricional necessária.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

  1. SHILS M E, OLSON JÁ, SHIKE M, ROSS AC. Tratado de Nutrição Moderna na Saúde e na Doença, Vol 1, Manole, 9ª ed. 2001.
  2. WAITZBERG DAN. Nutrição Oral, Enteral e Parenteral na Prática Clínica. Vol 1, Atheneu, 4ª ed, SP. 2009.
  3. COZZOLINO SMF. Biodisponibilidade de Nutrientes, Manole, SP, 2005.
  4. SCHMIDT MA, Gorduras Inteligentes. Roca, SP, 2000.